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dia do palhaço

Vida de Palhaço: riso como profissão mesmo em meio aos momentos mais tristes

Nessa matéria especial, o Portal da Cidade conta a história surpreendente de Daniel Meira Marques, em comemoração ao Dia Universal do Palhaço (10/12).

Publicado em 10/12/2019 às 01:59
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Daniel Marcílio Meira Marques, o palhaço DanDan (Foto: Reprodução/Arquivo pessoal)

Dos chineses aos gregos, dos egípcios aos indianos, quase todas as civilizações antigas já praticavam algum tipo de arte circense há pelo menos mil anos. O circo é o ambiente em que toda família se reúne, e dentre os artistas, o palhaço nunca passa desapercebido. Enquanto as demais apresentações são recheadas de adrenalina e mistério, fazendo o público perder o fôlego de tensão, os palhaços fazem a plateia perder o fôlego de rir, são a leveza e a interação entre artista e público.

Hoje, dia 10 de dezembro, é o Dia Universal do Palhaço. Por isso, o Portal da Cidade conversou com Daniel Marcílio Meira Marques, que durante muito tempo, deu vida ao Palhaço DanDan, no picadeiro do Circo Spacial.

“Falar como iniciou a minha trajetória no mundo circense é sempre relembrar da minha infância, porque desde que eu me entendo como ser humano, eu sempre fui uma criança extremamente apaixonada pelo universo circense. Então, eu lembro que os meus pais me levavam ao circo e sempre que eu ouvia um circo [...] não importa se não tivesse espetáculo, eu parava, dava uma volta no circo, tirava uma foto, e já começa com as palhaçadas”, relembrou DanDan.

Daniel, conta que sempre foi cativado pela arte circense, “extremamente apaixonado, então não foi eu que escolhi o circo, e sim, o circo que me escolheu [...] algo que aflorou dentro de mim e que falava mais forte: ‘este menino nasceu para ser palhaço’.

Durante a infância, é comum as crianças idealizarem profissões. Ao Portal da Cidade, DanDan relembra que “desde pequeno, as pessoas perguntavam: ‘o que você quer ser quando crescer? ’. Uns diziam: ‘eu quero ser médico’, ‘quero ser astronauta’, ‘eu quero ser professor’, e eu falava: ‘eu quero ser palhaço’. E mais do que isso, eu falava: ‘eu quero ser palhaço de circo’.

O primeiro contato

“As pessoas nunca colocaram muita fé, porque o circo é um ambiente muito tradicional, familiar, que passa de geração em geração, e eu não tinha ninguém na minha família que era de circo. Quando eu completei catorze anos de idade, eu lembro que tinha um circo, o Circo Spacial. Ele estava próximo da minha casa e eu mandei uma mensagem: ‘Oi. Vocês estão precisando de algum funcionário? Porque eu queria ser palhaço de circo, mas primeiramente eu queria entrar dentro de um circo e lá me desenvolver como palhaço’. E aí eles responderam. ‘Olha nós estamos precisando de alguém pra iluminação e pro som’. Não perguntaram minha idade, nem nada. Cheguei na entrevista, a gerente do circo me esperava na porta. Quando ela me viu, falei: ‘oi, eu sou o Daniel. Vim fazer uma entrevista pra cuidar da iluminação e do som’. Ela ficou um pouquinho surpresa, ver uma criança... aí ela me explicou como era o trabalho, e aí enfim, criou-se uma amizade. Eu fiquei duas semanas no circo. [...] e aquele desejo de estar sempre ali ficou muito forte dentro de mim. Aos dezessete anos de idade, eu retomei o meu contato com o pessoal do Circo Spacial, e aí foi pra valer”, conta.

Um ditado popular entre os circenses é que “depois que você bebe a água da lona de um circo ou depois que o solado do tênis abre quando você está dentro de um circo, você nunca mais sai”. Foi exatamente o que aconteceu com Daniel. Segundo o palhaço, ainda hoje, ele tem guardado o “tênis que eu usei aos quatorze anos de idade, porque durante aquelas semanas em que trabalhei no circo pela primeira vez, o solado abriu, então significa que o circo vai estar eterno na minha vida”.

A grande estreia

“Fiz a minha primeira apresentação com o coração grato e também foi o frio na barriga tremendo, porque tamanha é a responsabilidade de ser palhaço. O palhaço é o cartão postal do circo. [...] A minha primeira apresentação não foi marcada! Minha estreia seria em janeiro do próximo ano, estávamos em agosto. Então eu estava vendendo refrigerante, a minha diretora artística falou: ‘você está com seu figurino de palhaço aÍ? ’. Falei: ‘estou’. Ela disse: ‘e se eu falar pra você entrar hoje, você está preparado pra ser palhaço? ’. Eu falei que sim [...] me maquiei, fui correndo, fiz apresentação e aí nesse dia eu alaguei o picadeiro, porque eu esqueci de fechar uma garrafinha do suco que ficava na cesta de piquenique [da apresentação circense]. Então foi algo que ficou muito marcado”.

Risos de gratidão

Na família de Daniel, ninguém é ou foi palhaço, ou teve qualquer contato mais próximo com o circo. Pioneiro, ele comemora a felicidade da aceitação familiar. Determinação, força de vontade e mais do que isso, paixão pelo mundo do circo, foram os ingredientes para uma vida dedica ao picadeiro. Vida de palhaço é ter o riso como profissão mesmo em meio aos momentos mais tristes.

“Olha é muito difícil descrever aqui em palavras, qual é a sensação para um palhaço entrar num picadeiro e arrancar gargalhadas da plateia. Porque atrás do palhaço, é algo muito importante também que nós temos que ter consciência, está, antes de tudo, um ser humano. Um ser humano que tem suas emoções, um ser humano que tem momentos de tristeza, que tem conta pra pagar, que tem a sua família, que tem problemas, que tem doenças, que tem dores, porém, é algo mágico quando você coloca o nariz de palhaço, entra no picadeiro e incorpora aquele personagem. Você esquece as suas dores. E algo que me cativa muito nesta profissão, é transformar vidas [...] certa vez, o circo montou a estrutura na rua de uma senhora de 84 anos de idade que já fazia mais de 04 anos que não saia de casa com depressão. O circo chegou ali na avenida que ela morava e um dia ela decidiu sair de casa para nos assistir, e ela foi curada da depressão naquele circo, assistindo o espetáculo. Então o circo, ele toca as almas, mexe com as pessoas”.

Dia de festa

“O circo é a mãe de todas as artes, é milenar. Ele tem o poder de congregar o rico, o pobre, o amarelo, o azul, todas as pessoas em um só lugar. Todos quando entram no circo são levados a outra atmosfera, e nós resgatamos nelas, principalmente hoje no mundo de tanta tecnologia, a essência da criança, a simplicidade e a ingenuidade. Neste dia Universal do Palhaço, eu gostaria de deixar aqui o meu incentivo à arte circense, o meu respeito, gratidão e parabenizar também todos os palhaços do Brasil, que transmitem com muito amor, com muita alegria, o dom de ser palhaço. Quero conscientizar também em relação ao uso indevido da palavra ‘palhaço’. Muitas vezes as pessoas usam esse termo para xingar, para menosprezar outras. Mas o palhaço é uma pessoa, que pinta a cara, coloca a maquiagem, o figurino, e dá o seu melhor. É uma profissão que deve e merece ser respeitada!”, finalizou DanDan.

Data Universal

O Dia Universal do Palhaço é uma comemoração que ocorre no dia 10 de dezembro. Começou a ser festejado em 1981 no Brasil pela Abracadabra Eventos em São Paulo, passando, ao decorrer dos anos, a ser comemorado em outras capitais brasileiras. Em 21 de Dezembro de 2017 foi sancionada a Lei 13.561, tornando oficial a data em todo o território brasileiro.


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