Portal da Cidade Lucas do Rio Verde

mercado

Guerra comercial internacional inflaciona mercado brasileiro de soja

Segundo especialista, consequências podem afetar diversos setores do mercado e pressionar preços ao consumidor brasileiro.

Publicado em 15/08/2018 às 06:02

Área de soja deverá ser ampliada (Foto: Reprodução)

Graças à guerra comercial que envolve Estados Unidos e a China, principalmente para as commodities, o preço do soja no mercado internacional tem sofrido diversas pressões e feito com que agricultores de outros cultivares intensifiquem a migração de suas lavouras para a oleaginosa.

Com a tarifação de Pequim sobre o soja norte-americano em 25%, o produto brasileiro tem se tornado muito mais atrativo aos importadores chineses e a demanda tem aumentado nos últimos meses. Pelos dados do Ministério da Indústria e Comércio Exterior, somente na primeira metade de 2018 houve um incremento de 36 milhões de toneladas enviadas do Brasil para a China e o mês de julho registrou um aumento de 46% em superávit para a balança comercial nacional em relação ao mesmo período de 2017.

No entanto as reverberações no mercado interno e externo são muito mais amplas e profundas, explicam especialistas no assunto. Um deles é Tiago Lucero, cientista social especializado em sociologia e antropologia econômica, que afirma: “essas migrações não são novidade no Brasil e remontam o período colonial de nossa economia. Acontece que, quando temos um forte atrativo por um produto, o mercado tende a voltar suas atenções para ele e criar um sistema de investimento e reinvestimento em sua cadeia produtiva, gerando um ciclo que, via de regra, é inflacionário”.

Teia econômica afetada
Lucero explica que o processo inflacionário atinge diretamente a economia nacional, uma vez que, mesmo que aumente a produção de soja para atender as demandas do mercado internacional e isso gere lucro, estes dividendos não são suficientemente altos para custear a escassez do mesmo produto no mercado interno, que alimenta diversas cadeias produtivas: “ração para produção de proteína animal, biscoitos, cosméticos, óleos, biocombustíveis [...] e as políticas econômicas brasileiras, desde sempre, nunca levaram em conta prever esse tipo de pressão interna porque, ao contrário de outras nações de economia de larga escala, nunca viu seu setor agropecuário sob o ponto de vista estratégico, de soberania, de inteligência de Estado [...] ao longo das décadas sempre respondemos ao mercado e ficamos à mercê dos interesses externos. Isso já aconteceu com o ciclo da cana-de-açúcar, do ouro, do café... e embora nossa exportação desses produtos seja monumental até hoje, ganhamos pouco e de forma aleatória, sem otimização, mesmo sendo os principais produtores”, comenta.

Cenário político
Outro fator que chama a atenção de Lucero é que nenhum dos candidatos à Presidência da República toca neste tema de maneira a criar expectativas de mudança de rumos para as próximas safras e décadas.

“Os candidatos sequer tocam no assunto e também não são pressionados  a fazê-lo, o que deixa evidente que o quadro permanecerá o mesmo, ao menos em um futuro próximo, principalmente se as projeções do mercado financeiro para uma cotação do dólar  a R$ 5,00 em algum tempo [...] se isso se concretizar, teremos ainda maior pressão de direcionamento dos nossos produtos do campo para o mercado externo, gerando ainda  mais escassez dentro do mercado nacional”.

Como reverter o quadro?
Concluindo a entrevista exclusiva ao Portal da Cidade, Lucero comenta que a solução para este quadro seria o fortalecimento de todos os setores do agronegócio para a ampliação das ofertas, quer seja para o exterior ou para as gôndolas dos supermercados [...] pensar estrategicamente a produção é produzir em de forma maximizada e em todos os sentidos, em um sistema de policulturas e em diversas escalas”.

Fonte:

Deixe seu comentário