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Futuro do trabalho

Por que 2022 é o ano da saúde mental nas empresas?

A tecnologia também está associada ao tema. O uso de dados está transformando modelos de negócio e inaugurando uma nova cultura de gestão humanizada

Publicado em 20/01/2022 às 09:05

Saúde mental será tema determinante para as empresas no pós-pandemia. (Foto: (Foto: Shutterstock))

A cada mês de dezembro, os editores do LinkedIn Brasil divulgam as Big Ideas ou tendências que irão bombar no ano seguinte. “Em 2022, o que podemos esperar do futuro do planeta? Como nos comportaremos no retorno aos escritórios? E o que podemos fazer para remediar os danos à saúde mental causados pela crise?”, questionam os editores Guilherme Odri e Rafael Kato.

A primeira tendência? “O futuro da pandemia se concentrará na saúde mental”.

“Em 2022, o mundo precisará reconhecer o trauma que a pandemia deixou. A vida pode estar se normalizando, mas muitas pessoas ainda estão lutando contra a tristeza, a depressão e a ansiedade. Muitos países enfrentam uma escassez de médicos, e no Brasil não é diferente, pois há um problema de má distribuição geográfica, com demanda por médicos em diversas especialidades. As plataformas digitais podem fazer uma diferença imediata nessa frente. A próxima fronteira também incluirá aplicativos e dispositivos vestíveis para ajudar as pessoas a administrar seu tratamento”, escrevem Odri e Kato.

Acontece que transtornos mentais são determinados por múltiplas causas, incluindo aspectos biológicos, psicológicos, sociais e culturais. E, apesar de não podermos determinar uma única causa para o adoecimento mental, há aspectos que podem constituir “gatilhos” para o estresse e a angústia sem fim.

Locais de trabalho onde existem práticas abusivas, como assédio ou abuso moral, por exemplo, geram um ambiente tóxico, fazendo com que as pessoas adoeçam.

“É muito importante um diagnóstico dos riscos psicossociais, como por exemplo horas extras em excesso, pressão por prazos, falta de equipamentos adequados, falta de flexibilidade, ausência de limites entre vida pessoal e trabalho, entre outros fatores de risco. Há ainda os que emergiram com a pandemia, como o teletrabalho, o uso de álcool e outras drogas, e a hiperconectividade”, me diz Ana Carolina Peuker, CEO e fundadora da BeeTouch.

Apesar de alguns avanços, como a maior abertura para a discussão do tema, Ana Carolina afirma que o assunto ainda é tabu e há muitos estigmas. “As saúdes mental e física ainda são percebidas como coisas separadas. As doenças mentais não são vistas como problemas reais. Passam por invenção ou farsa.”

Para a founder, o universo corporativo ainda se preocupa com o plano de saúde, priorizando a gestão das doenças físicas. “Na prática, a conta da sinistralidade e dos afastamentos por motivo de saúde mental já está chegando há bastante tempo.”

Ela tem razão. Trata-se de uma área historicamente negligenciada e, com isso, todos saem prejudicados: trabalhadores, empresas e sociedade. Só em 2020, início da pandemia, dados da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho dão conta de que foram quase 300 mil trabalhadores afastados no Brasil.

E, além disso, houve uma alta de quase 30% na concessão de aposentadorias por invalidez e auxílios-doença por problemas como depressão, em relação ao registrado em 2019. Fora as consequências secundárias, como presenteísmo, absenteísmo e turnover.

“Depois da folha de pagamento, os custos de saúde são os maiores em uma empresa”, me lembra Ana Carolina, cuja BeeTouch usa da tecnologia e da ciência de dados para identificar e rastrear riscos psicológicos nos ambientes corporativos.

A partir desta análise, oferece soluções em saúde mental baseadas em dados e medidas confiáveis.

“Gosto de dizer que não somos aventureiros na área de saúde mental, somos cientistas. Desenvolvemos a primeira plataforma digital de avaliação psicológica do país, a Avax Psi. Hoje, temos ferramentas como o ‘Burnômetro’, que mede os níveis de exaustão pelo trabalho. Além disso, desenvolvemos o índice de risco psicossocial, que auxilia as empresas a predizer riscos de saúde mental e a implementar planos de ação com base na raiz dos riscos psicossociais e nas necessidades reais dos colaboradores.”

Tanto as ferramentas como a avaliação psicológica de forma remota, por meio de plataforma, têm como pano de fundo os dados obtidos via protocolos de avaliação e algoritmos de análise. O resultado é a criação de ambientes psicologicamente saudáveis e adequados – uma estratégia importante para prevenir e combater as doenças ocupacionais e reduzir custos.

“Os afastamentos devido aos transtornos mentais se refletem em perdas de produtividade para as empresas, prejuízos na qualidade de vida dos trabalhadores e maior sinistralidade, além de gastos com demandas judiciais e pedidos de demissão – que vêm aumentando muito nos últimos anos”, me lembra Ana Carolina.

Tendências

Pergunto a ela quais as tendências para o mercado em 2022. “Em primeiro lugar, o atendimento à legislação. Já existem normas regulamentadoras do Ministério do Trabalho, que exigem a avaliação dos riscos psicossociais. Mas muitas empresas negligenciam essa obrigatoriedade. Além disso, com a publicação da ISO 45003, aquelas empresas que tenham ou almejem essa certificação devem ser criteriosas e utilizar tecnologias e conhecimento científico de ponta para identificar e mitigar os riscos potenciais”, observa.

“O uso de tecnologia ajuda a antecipar riscos de saúde mental, criar rastreabilidade destes fatores de risco. E também a identificar as necessidades dos colaboradores.”

Muito mais do que programas pontuais em meses específicos do ano, como o Janeiro Branco e o Setembro Amarelo, é preciso promover uma cultura de saúde mental, de forma sistêmica e duradoura. Isso passa por ações estratégicas e políticas organizacionais voltadas a esse fim.

A Inteligência Artificial surge como aliada na prestação de serviços psicológicos, pois pode contribuir para o diagnóstico precoce, ajudando nos canais de pronto-atendimento digital, com os chatbots, e ainda na compreensão da massa de dados que é formada a partir disso.

A questão é como tratar esses dados, o que fazer com eles, como usá-los a favor do desenvolvimento, como usá-los em tomadas de decisão mais assertivas. Por isso são tão importantes o rigor científico e o embasamento técnico na área de saúde mental.

Soluções “caseiras” já não são suficientes.

No Mato Grosso do Sul, um case

Atuando há mais de 30 anos na assistência da advocacia do Estado de Mato Grosso do Sul, a CAAMS dispõe do Programa LegalMente, e está presente para prestar o atendimento necessário quando o advogado se encontra em estado de vulnerabilidade.

“Devido à pandemia, desencadearam-se diversos casos de transtornos mentais e afastamentos do trabalho. Para garantir a manutenção da vida, a CAAMS e OAB/MS lançaram a Plataforma‘legalmentecaams.com.br. O atendimento psicológico online traz muitas facilidades, pois o advogado e seus familiares podem marcar a consulta direto na plataforma, com valores abaixo do praticado no mercado, e realizar a sessão de qualquer local”, me conta Euclydes José Bruschi Júnior, secretário-geral da CAAMS.

“A conveniência pode aumentar a adesão. Contudo, acreditamos que o diferencial é ter equipes bem treinadas e supervisionadas. Além disso, o trabalho não deve prescindir do uso inteligente de dados”, diz.

O mapeamento, revela, vem sendo o fio-condutor de todas as ações, e os resultados têm sido positivos. “Partimos de um lugar seguro para agir, que hierarquizou essas demandas e nos mostrou um ‘mapa’ para seguirmos. Sem isso, correríamos o risco de estarmos mirando algum alvo que não era prioritário.”

*Marc Tawil é empreendedor, estrategista de comunicação, escritor, educador e palestrante. Nº 1 LinkedIn Brasil Top Voices e LinkedIn Learning Instructor, é três vezes TEDxSpeaker e lança em 2022 pela editora HarperCollins Brasil o livro Seja Sua Própria Marca. Acesse os canais oficiais no Telegram e no YouTube.


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